segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Do Paradóxo II


"Olhe, tenho uma alma muito prolixa e uso poucas palavras. Sou irritável e firo facilmente. Também sou muito calma e perdôo logo. Não esqueço nunca, mas há poucas coisas de que eu me lembre. Sou paciente, mas profundamente colérica, como a maioria dos pacientes. As pessoas nunca me irritam mesmo, certamente porque eu as perdôo de antemão. Gosto muito das pessoas por egoísmo: é que elas se parecem no fundo comigo. Nunca esqueço uma ofensa, o que é uma verdade. Mas como pode ser verdade, se as ofensas saem de minha cabeça como se nunca nela tivessem entrado? Tenho uma paz profunda, somente porque ela é profunda e não pode ser sequer atingida por mim mesma. Se fosse alcançável por mim, eu não teria um minuto de paz. Quanto a minha paz superficial, ela é uma alusão à verdadeira paz. Outra coisa que esqueci é que há outra alusão em mim: a do mundo grande e aberto. Apesar do meu ar duro, sou cheia de muito amor e é isso o que certamente me dá uma grandeza."

CLARICE LISPECTOR

3 comentários:

Ana Aitak disse...

maravilhoso trecho, maravilhosa Clarice...bjus

Ana Aitak disse...

Ficaria muito feliz, apaguei a msg, por causa do número. bjo

Anônimo disse...

As lembranças vão ficando lá no fundo, então dicifil recordar todas elas...Alma prolixa? me explique...não entendi...

Belo espeço, parabens

Beijitos